terça-feira, 16 de junho de 2009

Currículo em debate - Caderno 5

“Bem, eu não gosto de Matemática porque tem contas grandes e é difícil de aprender, tem que ter um modo de diminuí-las.
Gostaria de aprender coisas novas como filmes, palavras cruzadas, caça–palavras.
As minhas expectativas são de grandes mudanças nas formas de trabalhar”.
Estudante: Iago dos Santos Dal Ross
Colégio Estadual Nestório Ribeiro
SRE: Jataí
O ensino de Matemática no Brasil passa por um momento que exige algumas discussões e reflexões. Nessa perspectiva, no Estado de Goiás acontecem encontros com professores, duplas pedagógicas e coordenadores pedagógicos de várias Subsecretarias Regionais de Educação, com a participação da Equipe de Matemática e demais áreas do conhecimento da Coordenação do Ensino Fundamental. Esse trabalho conta com a assessoria de professores de Matemática da Universidade Federal de Goiás, Universidade Católica de Goiás e pesquisadores do Centro de Estudo e Pesquisa em Educação, Cultura e Ação Comunitária – CENPEC.
O currículo de Matemática do Ensino Fundamental, até então, vinha sendo construído a partir da seleção e organização de conteúdos considerados pré-requisitos para o desenvolvimento lógico dedutivo dos estudantes. Os professores da rede estadual de Goiás, por meio de discussões e reflexões sobre o ensino de Matemática com a COEF e o CENPEC, chegaram à conclusão de que seria necessária a construção de um Referencial Curricular que priorize habilidades de compreensão dos significados apreendidos a partir do contexto social e cultural do estudante, as quais devem ser trabalhadas gradativamente ao longo da vida escolar, buscando combater a mecanização. E esse referencial tem como metas norteadoras a leitura e escrita, a cultura local e juvenil e a ampliação dos espaços para discussão coletiva (grupo de estudo), em todas as áreas do conhecimento.
Este documento, apresenta uma estrutura de 1º ao 9º ano com conteúdos explicitados dentro das expectativas de aprendizagens, organizados em quatro eixos temáticos, os quais foram definidos a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais e do texto de concepção de área do Caderno 3 da Reorientação Curricular, onde “os currículos de Matemática para o Ensino Fundamental devam contemplar o estudo dos números e das operações (no campo da Aritmética e da Álgebra), o estudo do espaço e das formas (no campo da Geometria) e o estudo das grandezas e das medidas (que permite interligações entre os campos da Aritmética, da Álgebra, da Geometria e dos outros campos do conhecimento). Um olhar mais atento para nossa sociedade mostra a necessidade de acrescentar a esses conteúdos aqueles que permitam ao cidadão “tratar” as informações que recebe cotidianamente, aprendendo a lidar com dados estatísticos, tabelas e gráficos, a raciocinar utilizando idéias relativas à probabilidade e à combinatória.” (PCN, 2001, p.49). Ensinar matemática tendo em vista os objetivos explicitados na proposta pressupõe trabalhar com diversidades de idéias e objetos relacionados aos eixos temáticos, que necessitam ser apresentados articuladamente entre si.Ao analisar as Expectativas de Aprendizagens com foco no desenvolvimento de habilidades, percebe-se a necessidade de propor situações problemas extraídas de contextos práticos, tais como nos esportes, atividades comerciais, culinária etc., de acordo com a cultura local e juvenil, que possibilitam excelente articulação entre os eixos temáticos. É necessário identificar com clareza quais conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais são importantes, para o cotidiano do estudante. “Os conteúdos devem promover a construção e coordenação do pensamento lógico matemático, para o desenvolvimento da criatividade, da intuição, da capacidade de análise e de crítica, que constituem esquemas lógicos de referência para interpretar fatos e fenômenos”. (PCNs 2001)
Logo, o trabalho escolar necessita adequar-se a uma nova realidade marcada pela crescente presença da Matemática nos diversos campos da atividade humana, também presente nas demais áreas do conhecimento, tais como Língua Portuguesa e Estrangeira (linguagens), Geografia (espaço), Ciências (tabela nutricional), História (tempo), Educação Física (espaço e lateralidade), Ensino Religioso (símbolos e enigmas), Arte (formas), onde são utilizados conhecimentos científicos e recursos tecnológicos, que por sua vez são essenciais para a inserção das pessoas como cidadãos no mundo do trabalho, da cultura e das relações sociais.
Assim, as presentes Matrizes têm como objetivo a compreensão e transformação da realidade do estudante, quando considera as culturas local e juvenil, a leitura e a escrita, argumentação, validação de processos, emissão de juízo e o estímulo às formas de raciocínio como a intuição, indução, dedução, analogia e estimativa, e isso se dará por meio do desenvolvimento das capacidades de observação, estabelecimento de relações, comunicação através de diferentes linguagens. Dessa forma é necessário partir da resolução de problemas convencionais e não convencionais, levando em consideração as observações do mundo real, valorizando a cultura juvenil e local por meio de representações, tais como: esquemas, tabelas, figuras, escritas numéricas etc. e da relação dessas representações com os princípios e conceitos matemáticos. Nessa perspectiva, a comunicação tem fundamental importância e deve estimular o estudante a falar e a escrever sobre como ele resolveu determinada situação e quais foram os procedimentos utilizados. Nesse sentido, a argumentação merece destaque especial no fazer pedagógico e o professor deverá estimular a autonomia do estudante.
Com as Expectativas de Aprendizagem por habilidades, o ensino e a aprendizagem de Matemática ganham uma nova identidade, que resulta de conexões que a Matemática estabelece com as demais áreas do conhecimento, com o cotidiano e com os diferentes temas matemáticos. As habilidades devem ser desenvolvidas de forma interdisciplinar, colaborando com a interpretação de situações-problema; elaboração de diferentes estratégias de sua resolução e validação; criticidade de informações e opiniões veiculadas pela mídia ou não; capacidade de investigação e da perseverança na busca de resultados, valorizando o uso de estratégias de verificação e controle de resultados; desenvolvimento de predisposição para encontrar exemplos e contra-exemplos; formulação de hipóteses e de comprovação, analisando semelhanças e diferenças entre elas, e justificando-as na emissão de um juízo de valor sobre o próprio desempenho, de modo que se aprimore em competências operatórias para construção de novos saberes.
Para isso, ao planejar o seu fazer pedagógico, o professor, deve selecionar e organizar os conteúdos, tendo como critério não apenas a lógica interna da Matemática (conteúdos conceituais) mas levando em conta sua relevância social e sua contribuição para o desenvolvimento intelectual, moral e social do estudante (conteúdos atitudinais e procedimentais). Além disso, ele deve incorporar à prática pedagógica do ensino e aprendizagem de Matemática, o conhecimento historicamente construído e que está em permanente evolução. Dessa forma possibilitará ao estudante reconhecer as contribuições que ele oferece para compreender as informações e posicionar-se criticamente diante delas.
Os recursos didáticos como: livros, jornais, revistas, vídeos, televisão, rádio, calculadoras, computadores, jogos e outros materiais, têm papel importante no processo de ensino e aprendizagem, por isso eles precisam estar interligados a situações que levem ao exercício da análise e da reflexão, sem anular o esforço da atividade compreensiva.
O professor, a todo o momento, deve lançar mão da avaliação do seu fazer pedagógico, que deve incidir sobre uma grande variedade de aspectos relativos ao desempenho dos estudantes, como aquisição de conceitos, generalizações, domínio de procedimentos que possibilitem a utilização de competências operatórias bem como o desenvolvimento de atitudes, apontando as experiências educativas a que os estudantes devem ter acesso e que são consideradas essenciais para o seu desenvolvimento e socialização.

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